terça-feira, 5 de abril de 2011

Comunicação e educação: passado e presente

Há cerca de quarenta anos atrás, a comunicação entre as pessoas era bastante prejudicada e diferente dos dias de hoje. Ninguém, na redondeza, tinha acesso a jornais, revistas, telefone ou televisão. O correio até hoje não chega até a localidade onde moro. Havia apenas um rádio de pilhas colocado num local alto e só o pai, dono da casa, tinha acesso a ele. O rádio era coberto com um paninho para protegê-lo e era a relíquia da família. Quando era ligado, principalmente em programas de música sertaneja, várias famílias se reuniam para ouvir.
A comunicação, entre as pessoas que estavam distantes, era feita por cartas ou bilhetes que não eram enviados pelo correio e sim entregues por pessoas conhecidas.
À noite, a família se reunia ao redor do fogão a lenha para ouvir histórias dos antepassados (guerra, viagens de carreta de bois, assombração) contadas pelos adultos e que fascinavam e até assustavam as crianças.
Os jovens se reuniam nos domingos à tarde na casa de algum conhecido para conversarem, tomar chimarrão, ouvir e cantar músicas ao som do violão, colher e comer frutas da época.
Entre as crianças havia muita diversão, pois, por não haver muitos recursos, os brinquedos e brincadeiras eram criados por elas mesmas. O xodó da época eram as rodas cantadas como Ciranda, cirandinha, Viuvinha, A canoa virou, O trem de ferro.
Atualmente, as pessoas têm acesso aos jornais, revistas (não há correio, mas conseguem, pois as pessoas ou familiares estudam ou trabalham na cidade), rádio, televisão, aparelho de som, vídeo, DVD, computador, internet e, principalmente, ao telefone, desde os mais velhos até crianças de pouca idade, essas inclusive são as que apresentam mais desenvoltura e facilidade na manipulação de aparelhos eletrônicos. Não é usado mais carta e sim o telefone para mandar recados e mensagens.
As famílias quando se reúnem não é para trocar ideias e sim, em silêncio, frente à televisão ou computador.
As brincadeiras de roda dificilmente acontecem nas famílias, até mesmo pelo número reduzido de filhos. No entanto, algumas escolas se preocupam em resgatá-las.
Assim como na comunicação, na educação na comunidade também ocorreram várias mudanças num curto espaço de tempo.
No passado, apenas uma professora lecionava para cerca de cinquenta alunos, atendendo de 1ª a 5ª série, merenda, direção, limpeza e manutenção da escola. Na zona rural, os encontros religiosos (missas, terços, novenas) eram feitos na escola e a professora sempre participava, sendo também a catequista e atraía grande número de pessoas. O professor era muito mal remunerado, mas tinha o respeito e valorização da comunidade, era uma autoridade e aconselhava alunos e pais.
Na hora do recreio, as meninas maiores aprendiam a bordar e fazer crochê. Os meninos brincavam de Caçador de Campo.
Toda informação que se tinha era obtida na escola, principalmente por parte da professora a na figura dela é que estava o saber. Os alunos caminhavam até seis ou sete quilômetros para chegar na escola e a merenda era precária. Todos estudavam numa sala só numa mesa grande com bancos.
Em dias de chuva, as faltas eram frequentes devido aos poucos recursos. Os alunos também faltavam muito na época do plantio e colheita para ajudar os pais na lavoura. Isso aumentava muito os índices de reprovação e evasão. Quem conseguia concluir a 5ª série já era, praticamente, adulto e tinha o emprego garantido.
O material escolar que se tinha era um lápis preto com a borracha na ponta, um caderno de doze folhas e um bloco feito pelos pais com papel de embrulhos (papel que enrolava as mercadorias compradas no armazém, pois não havia embalagens plásticas). O livro era comprado pelos pais e servia para todos os filhos, passando dos maiores para os menores. Os meninos levavam o material no bocó, usado a tiracolo, e as meninas carregavam numa sacolinha, também de pano.
Nos dias de hoje, os alunos têm todos os recursos e materiais necessários e, muitas vezes, não valorizam o estudo e desrespeitam colegas e professores. Eles dispõem de toda uma estrutura organizada especialmente para eles e sua aprendizagem, como biblioteca, transporte, merenda variada e de boa qualidade, salas confortáveis (com ventilador, ar condicionado, bebedouro), uma professora ou até mais de uma para atender uma única turma com, no máximo, trinta alunos. Além disso, todos têm acesso aos mais variados meios de comunicação e fontes de informação. Sobram estímulos, recursos e materiais didáticos e faltam valores, que a escola sem cessar tenta resgatar.

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