terça-feira, 5 de abril de 2011

O local onde vivo



            Moro numa localidade que hoje tem acesso a novas tecnologias e todos podem deslocar-se com algum conforto, mas tudo isso foi conquistado com muito esforço, ao longo de vários anos de história.
            Provavelmente, no início do século XIX, um casal com seus filhos procurando um local para se instalar e garantir seu sustento seguiu uma trilha e chegou até um local plano, mas no alto de um monte, tendo como vista uma bela paisagem. Ali criaram seus filhos, fizeram sua lavoura plantando o essencial para o sustento de sua família como milho, feijão, aipim e criaram alguns animais. Com o passar dos anos, os filhos casaram, tiveram filhos e uma dessas crianças era meu avô. Outras famílias chegaram e a comunidade foi crescendo. Os meios de transporte e locomoção usados eram o cavalo, a carreta de bois e a pé. A única fonte de informação até então eram as histórias contadas pelos pais e conhecidos. Ainda não havia escola e algumas crianças andavam mais de 5 km até chegar ao colégio da comunidade vizinha.


Da esquerda para a direita, a primeira moradora do local, sua filha, neto, bisneta e tataraneto, compondo 5 gerações da família Luz.
Quando um avião passou pela primeira vez na comunidade causou grande espanto, principalmente pelo barulho, as pessoas se escondiam pensando estar acabando o mundo.
            O tempo passou, meu avô cresceu e virou um homem, conheceu minha avó que era professora, casaram-se e foram morar na antiga casa dos pais dele. Por volta de 1963, na sala desta casa, foi fundada a escola da comunidade. Meus avós mudaram-se para uma nova casa e a escola passou a funcionar próxima a esta, num prédio próprio, mas muito simples, com apenas uma sala. A merenda era feita na casa da minha avó, a professora, que atendia cerca de cinquenta alunos de 1ª a 5ª série. Ela era também a catequista e as missas, terços, crisma, 1ª comunhão, novenas eram realizados na escola.
                       
Por volta de 1980, muitos moradores haviam saído da comunidade e outras localidades vizinhas, indo para a cidade em busca de melhores condições.
Garantir o sustento da família, que geralmente era numerosa, não era fácil. O principal produto do local, produzido até hoje, é a cana-de-açúcar que nos engenhos se transforma em melado, a base da fonte de renda dos moradores.
                      
O que não era plantado precisava ser comprado na venda da comunidade vizinha. Os produtos como arroz, açúcar, farinha de trigo não eram embalados e sim vendidos a kg e colocados e embrulhos de papel. Estes eram passados com ferro a brasa, cortados e feitos blocos que serviam de caderno para as crianças estudarem.
As mulheres que tinham oportunidade seguiam o magistério, como foi o caso da minha mãe e minhas três tias, estas que exercem a profissão até hoje.
Em 1990, dois acontecimentos aceleraram o progresso do local: a abertura e ensaibramento da estrada e a instalação da rede elétrica, melhorando muito a vida dos moradores.
Hoje é possível deslocar-se ou comunicar-se com outras regiões com mais facilidade. As pessoas também podem sair para trabalhar fora, diversificando sua fonte de renda. Ainda se planta para subsídio da família, se cultiva cana, faz melado e cachaça, se cria gado, porco, mas há outros meios de sobrevivência, havendo pedreiros, professores, industriários, aposentados, estudantes, entre outros.
O que caracteriza os moradores dessa localidade e o povo do município, de modo geral, é a simplicidade e a luta constante por melhores condições de sobrevivência. Aqui se conseguiu a escola, o município conquistou o pólo e ambos vão seguindo sem esquecer as origens humildes e buscando progressos, educação e a realização de sonhos.
                       

           

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